O nosso primeiro beijo




    Não estava nada à espera. Eu gostava dele, mas não fazia ideia de que era correspondida e, fruto de um grande isolamento/bloqueio emocional que durou um par de anos, estava demasiado tímida, medrosa, com pouca auto-estima e vulnerável para tomar a iniciativa e perguntar-lhe o que sentia. 

    Senti uma atracção desde o primeiro momento em que falei com ele - e uma ânsia de lhe tocar e, quiçá - sentir os seus lábios nos meus aumentava a cada dia, mas eu não sabia, não fazia a mínima ideia de que do outro lado os sentimentos eram os mesmos. Talvez porque não acreditasse ser possível alguém tão giro, interessante e inteligente gostar de mim dessa forma sempre coloquei de lado qualquer tentativa de sedução. Não acreditava que "isso" alguma vez seria possível e portanto não reconheci os sinais.

     Eles estavam todos lá. Uns menos subtis que outros, mas estavam. Falávamos todos os dias, ele perguntava se podíamos falar de novo no dia seguinte, etc. Mas eu, ceguinha de todo, não percebia que o interesse era algo mais do que uma simples amizade e boa conversa. "Os interesses em comum e o fluir dos nossos diálogos, é disso que ele gosta e mais nada" - convencia-me eu à exaustão sempre que eu sequer pensava em tentar abordar os meus sentimentos por ele com ele. E parava de pensar nisso. Desistia.

    O vazio entre nós era cada vez menor, quando nos sentávamos para um café ou almoço, e a electricidade sentia-se. Estava ali, o desejo, em ambos, a deitar faíscas e eu continuava sem arriscar.

    Por vezes, como quando ele me segurou no braço para me ajudar a descer umas escadas molhadas e evitar que eu caísse, eu sentia fisicamente essa electricidade. Ela corria todo o meu corpo e fazia-me estremecer, e desejar que as escadas não tivessem fim. 

    Mesmo assim continuava a negar os seus sinais de afecto, a relegá-los para actos de cortesia desinteressada que ele pudesse ter com qualquer pessoa. "Não. Eu não seria o alvo da sua cortesia carinhosa. Não podia ser. Porquê eu? Esquece lá isso e pára de sonhar." Oh, o quanto eu ouvia essa vozinha mas ao mesmo tempo me imaginava a estender a mão e apertar a dele e entrelaçar os meus dedos nos dele.

    Sonhar é de graça e ninguém adivinha o que nos vai no pensamento, certo? A não ser que cores. Coisa que eu fazia e faço muito facilmente. Fico corada por tudo e por nada. Disse-me uma amizade que "isso até é bom, porque assim ninguém sabe porque é que estás corada. Pois se o estás a fazer quase a tempo-inteiro não dá para adivinharem o que te embaraçou".

    Só quando, num dia em que eu estava com demasiados pensamentos que me fazem corar a todo o tempo, toda atabalhoada a beber o meu batido e a não conseguir manter o meu olhar no dele por causa da sua intensidade é que comecei a ver os sinais todos noutra luz.

    - Senta-te aqui ao pé de mim e conta-me a tua história. - pediu-me, com um sorriso divertido. 

     Um alerta vermelho soou no meu cérebro. Ele tinha acabado de me pedir explicitamente para fazer algo que eu já estava a fazer perto dele, mas ainda mais perto. Nomeadamente num sofá, num local onde estávamos sozinhos, com total privacidade. Os alertas todos soaram ao mesmo tempo e finalmente deixei-me pensar que sim, se calhar é possível. Se calhar ele está tão interessado em mim quanto eu nele. Mas mesmo assim, não fiz nada. Sentei-me ao lado dele. Balbuciei o resto da minha frase, corei ainda mais e tentei não colocar a minha cabeça no ombro dele enquanto falava. Era o que me apetecia fazer naquele momento e era algo que, apesar de nos conhecermos há pouco tempo, me parecia natural acontecer. 

    Apenas uma coisa me impedia: eu. Eu, eu, eu. Continuava a pensar, lá no fundo, que não merecia tamanha sorte, que era tudo da minha cabeça, que vivo no mundo dos sonhos e que desta vez estava a ir longe demais, mas... 

    Depois ele faz aquele veeeeeelho truque do braço por cima do ombro e olha para mim e eu vejo no olhar dele desejo, carinho e atenção, tudo misturado num brilhozinho nos olhos maroto que me pergunta: queres? - e que só avança após um sim, quero!

     E eu deixo-me perder nele.

   Não sei se me vou magoar de novo, mas não quero saber e, ao mesmo tempo, pressinto que não, não me vai acontecer nada de mal. Ele foi sempre respeitador do meu tempo, do meu espaço e, acima de tudo, da minha vontade.

     E beijamo-nos. Finalmente.


    Faz hoje 6 meses que o beijei pela primeira vez. Sou a mesma pirralha, mas mudada pela aventura que tem sido partilhar sonhos, medos, objectivos, carinho e amor com essa pessoa, numa viagem de constante comunicação e afecto.

    E vocês? Têm uma história que queiram partilhar? Qual? Como é que começa? Contem-me tudinho aqui nos comentários! :)

    Beijinhos,
    Pi.

0 Comentários